terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Mulheres no Teatro





Espelho de Vênus: performance poética
A proposta do projeto cenográfico Espelho de Vênus, foi executada de acordo com as idéias do projeto. Quando colocamos as idéias no papel, elas passam por várias etapas, desde a viabilização técnica, financeira e de pessoal, relacionadas diretamente com a prática cenográfica e ação dramática.
José Dias nos coloca que como qualquer atividade artística, a cenografia revela, através do material e das formas que usa um conjunto de emoções e de idéias relativas e pessoais. Cenografia é tudo o que é registrado plasticamente em cena.
O projeto nos possibilita discussões, mudanças caso sejam necessárias, o que aconteceu com o nosso projeto não difere das experiências vivenciadas por outras equipes. Não usamos a corrente de pano, no cenário. Preferimos retirar devido o pouco tempo, para confecção das mesmas e o número reduzido de mulheres em cena. Ficando para ser usada na continuidade do projeto, base da minha pesquisa no teatro.
Particularmente este trabalho nos fez pensar os detalhes do trabalho teatral, desde a concepção cenográfica (pensada por mim, fruto da pesquisa: Mulheres no teatro), direção, figurino, trabalho corporal.
O teatro não é realizado individualmente, ou seja, sozinho, precisa-se de profissionais de outras áreas necessárias para efetivar projetos teatrais. Espelho de Vênus, no início seria realizado individualmente, por que trabalhar em equipe dava muitos problemas, mas quando coloquei a proposta no papel, não era monólogo, pois já experimentei uma vez, mesmo sabendo que meu propósito sempre foi colocar muitas mulheres em cena. E nesse desejo de avançar na pesquisa, convido Nathália e compartilho com ela, meu projeto, sendo que estava fazendo dupla com Anderson Parente. Eu não queria trabalhar com homens, mas como a disciplina era cenografia, poderia dividir as tarefas da proposta cenográfica. Ambos aderiram à minha proposta, que foi aceita com muito entusiasmo.
De acordo com RATTO, a tarefa do teatro, decantar as idéias para que, quando propostas, transformem quem as recebe. Meu primeiro passo, foi dialogar sobre as relações de gênero na sociedade machista e patriarcal, conversei muito com Anderson, que suas opiniões estavam pautadas na naturalização da mulher e as práticas de desigualdade culturalmente reproduzidas. O que aconteceu foi uma sensibilização para a prática de uma sociedade sem violência de gênero, que afeta não somente às mulheres, mas aos homens que são na grande maioria autores das violências, mesmo o Estado sendo o maior violador de direitos. Nessa relação não se percebem, que as ações violentas contras as mulheres reafirmam, as desigualdades sociais, colaborando com a sociedade patriarcal e machista. Reafirmo que é uma luta de classes, onde todas e todos devem mudar essas relações de poder. Espelho de Vênus trabalhou a interdisciplinaridade em sua proposta, pois convidou profissionais de outras áreas, para colaborarem com o projeto, convidamos pessoas envolvidas com a música, dança, jornalismo e comunidade, uma integração de saberes, troca de experiências no teatro e educação popular.
Quando estávamos nos ensaios, não queria que Anderson conduzisse a Direção, por que o trabalho tem a perspectiva feminista, e tem que ser dirigido por uma mulher, pois um homem nunca será feminista. Por isso, coloquei Anderson, para trabalhar o corpo e observar, às vezes dava opinião sobre o processo. No início, que fui para a cena, ele começou a tentar fechar as coisas, quando comecei a fazer as intervenções que achava necessário. Eu não queria ir para a cena, mas por falta de mulheres tive que ir. Preocupei-me com a questão do olhar masculino na direção.
Mulheres em cena, questionando, envolvendo o público, para uma análise crítica da situação de submissão das mulheres na história, a figura feminina e as posturas que lhes são atribuídas constituem construções históricas e sociais. A intervenção poética reflete o cotidiano de mulheres e homens, nesse jogo social.
SAFFIOTI nos mostra que as estruturas da nossa sociedade estão marcadas por profundas desigualdades sociais, estão construídas a partir de um ideário positivista que justificou, através de argumentos naturalizadores da vida social, as formas de violência exercidas sobre as mulheres, sobre a população negra e indígena.
Abordar a temática da situação das mulheres nas relações de gênero no teatro é dar continuidade à luta das mulheres, trabalhando o posicionamento político para a transformação da cultura e desconstruir conceitos e posicionamentos errôneos sobre o movimento feminista, por que o mesmo surge como forma de organização das mulheres, na luta por direitos, liberdade das mulheres e qualidade de vida.

ENCENAÇÃO
Iniciamos no Hall do Centro de Ciências Humanas, onde Rosa Santos aluna de música começou as batidas de caixa, que conduziu o aquecimento corporal. Em seguida Priscila Carvalho, da AKONI, aluna do 2º ano do ensino médio, moradora da área Itaqui – Bacanga recitou o poema “O Dia Amargo da Mulher” de Eugenia Corazon. Fomos em cortejo pela rampa, para o espaço da Ágora, local escolhido para a apresentação.
As mulheres estenderam as roupas, no varal, mostrando o cotidiano de muitas mulheres. Andaram pelo espaço, como se estivessem no ritual, e deram continuidade recitando o poema “Sexo Feminino” de Dione Barreto.
O envolvimento da caixa, das músicas com a encenação deu-se nos estudos da “Roda”, como símbolo de conhecimento. O que aconteceu no final, e o público foi convidado para entrar na roda e nós mulheres compartilhamos a luta das mulheres, com a força cotidiana das Marias, Joanas, Carlas, Franciscas entre outras, que escreveram e escrevem a história.
E assim se deu a prática do projeto cenográfico, compartilhado com todas e todos, pela manhã na Ágora. Para nós reafirmou o posicionamento das mulheres e o
envolvimento dos homens, na luta contra qualquer tipo de violência. Que essa prática esteja presente todos os dias de nossa existência. E que mais mulheres, compreendam o processo histórico de invisibilidade e a atuação das feministas, na valorização das mulheres. E que os homens entendam, que a cada mulher que encontra a liberdade, fica mais fácil para eles se manifestarem.
ELENCO
Dayana Roberta – Direção / Atriz
Anderson Parente – Preparação Corporal/ Assistente
Rosa Santos – Música /cantora (som de caixa)
Priscila Carvalho – Atriz/ cantora
Socorro Costa – Atriz

CENÁRIO
Varal com saias, vestidos
Pano na ágora
Saias Rodadas na Ágora
Vassouras
Balde com as saias

SONOPLASTIA
Toques de Caixa (Divino)
Músicas: Afros/ Estrela Miúda



Autora: Dayana Roberta

Um comentário:

  1. Eu adorei a apresentação, as meninas estão de parabéns. Dayana desejo para você e o núcleo artístico feminista, muito sucesso e bastante trabalho.Parabéns, pela dedicação no trabalho e estudos sobre as mulheres, teatro e juventudes.

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